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terça-feira, 5 de abril de 2011

Universidade de Évora aposta em carvão de cortiça

Material tem qualidade superior ao comercial

Carvão pode ser mais uma saída para os desperdícios de cortiça
Carvão pode ser mais uma saída para os desperdícios de cortiça
A Universidade de Évora foi pioneira na transformação de desperdícios de cortiça em carvão activado, material de carbono com inúmeras aplicações, e quer agora criar um produto específico, superior ao comercial, capaz de interessar o mercado.

“O mercado está cheio de materiais nesta área e a grande vantagem” para atrair a indústria “será encontrar um material que se distinga dos outros”,afiançou hoje à Agência Lusa Paulo Mourão, da academia alentejana.

O investigador do Centro de Química de Évora revelou ser essa a linha da investigação em curso. Criar um carvão activado a partir de cortiça com “um desempenho diferente do clássico em relação a determinado poluente ou molécula”. “Aí, abre-se um nicho de mercado e é nisso que estamos a trabalhar, tentar encontrar um casamento mais forte e duradouro do que aquilo que existe entre um dos nossos carvões activados e determinada molécula”, disse.
O Centro de Química de Évora acumula, há mais de 20 anos, experiência na área dos carvões activados. Com a tese de doutoramento de Paulo Mourão, num trabalho entre 1998 e 2006, a academia foi pioneira na sua obtenção a partir da cortiça.

A cortiça juntou-se, então, ao leque de materiais precursores que, mediante processos químicos e físicos, origina carvão activado, como recursos naturais (subprodutos agrícolas), produtos sintéticos (polímeros) e resíduos industriais. Este material é capaz de absorver (reter substâncias de um fluído na sua superfície sólida e volume poroso acessível) moléculas diversas, poluentes ou outros compostos e tem aplicações cada vez mais variadas.

Mundialmente, o consumo de carvão activado chega às megatoneladas
Mundialmente, o consumo de carvão activado chega às megatoneladas
“As mais conhecidas”
, realçou, são nos tratamentos das águas residuais ou potáveis, gases, zonas poluídas e também em células de combustível das pilhas de armazenamento de energia dos carros de nova geração. Mas está também presente no dia a dia, com aplicações “mais básicas”,nomeadamente para “combater”odores, como nas palmilhas dos sapatos e em vários tipos de filtros, do frigorífico ao exaustor ou ao ar condicionado.

A nível mundial, o consumo de carvão activado “chega hoje às megatoneladas”, mas, em Portugal, referiu Paulo Mourão, “não seriam viáveis” os custos da produção em larga escala do produto. Sobretudo recorrendo à cortiça, cujos desperdícios originam vários subprodutos comerciais.

“Será complicado, porque há outras fontes no mundo e a indústria não está localizada em Portugal”, disse. Mas a situação pode alterar-se, caso o investigador obtenha um produto muito específico e superior ao comercial, que seria rentável. Aí, assegurou, poderia despertar o interesse do agricultor que possui uma área de montado, abundante no Alentejo, e até o “apetite” da indústria da cortiça, oferecendo-lhe um novo encaminhamento para os desperdícios.

“Estamos a trabalhar nessas áreas, vamos testando os nossos materiais. Em determinadas condições, parece-nos que será possível preparar materiais com características acima das normais”, limitou-se a desvelar, para já, Paulo Mourão.

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