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sexta-feira, 29 de abril de 2011

Cérebro cansado pode adormecer por uma fracção de segundo

Consequências podem ser perigosas

2011-04-28
Padrões de actividade eléctrica nos neurónios limitados.
Padrões de actividade eléctrica nos neurónios limitados.
Há dias em que não nos lembramos de onde deixamos as chaves ou os óculos, mas será distracção, esquecimento ou apenas um sinal de que estamos a precisar de dormir? Segundo a conclusão de um estudo, realizado na Universidade de Wisconsin-Madison(EUA), feito com camundongos, o cérebro cansado pode adormecer por uma fracção de segundo, mesmo que esteja a funcionar activamente.

O estudo, publicado na revista britânica «Nature»refere que o sono afecta parte do nosso cérebro. As consequências podem ser perigosas dependendo da tarefa que determinado indivíduo estiver a desempenhar. Antes da fadiga se manifestar, o cérebro poderá dar sinais que indicam que “o mais aconselhável será interromper certas actividades que exijam um estado alerta", avançam os investigadores da equipa de estudo.
Segundo Chiara Cirelli, professora de psiquiatria da universidade, grupos específicos de neurónios podem adormecer, com consequências negativas. A teoria convencional é baseada na observação de electroencefalogramas, que revelam os padrões de actividade eléctrica nos neurónios, mas com algumas limitações.

Os eléctrodos são posicionados no couro cabeludo, o que significa que captam melhor o sinal dos neurónios mais próximos do crânio e resumem a actividade de centenas de milhões deles, não conseguindo analisar células isoladamente.

Para contornar esta limitação, Cirelli e seus colaboradores inseriram sondas ultrafinas no cérebro de 11 camundongos adultos para monitorar a actividade eléctrica em subgrupos de neurónios no córtex responsável pela coordenação motora "semi-automática".

Os roedores foram mantidos acordados durante quatro horas além do horário em que normalmente vão dormir, com a ajuda de objectos novos, introduzidos na gaiola, para mantê-los interessados e activos.
A monitorização cerebral mostrou que, mesmo quando todas as aparências indicavam que os animais estavam acordados e activos, neurónios nestas áreas específicas não estavam a funcionar, ou seja, partes do cérebro permaneceram adormecidas enquanto outras continuavam despertas.

Experiencia em camundongos


Mesmo quando alguns neurónios pararam de funcionar, as medições cerebrais indicavam que as cobaias estavam acordadas e estes episódios de “sono localizado” afectaram o comportamento dos animais. Os ratos foram treinados durante duas horas para realizar uma tarefa complicada: segurar uma bola de açúcar com uma única pata, mas quanto mais cansados ficavam, mais difícil se tornava para os roedores conseguir desempenhar a actividade.

Acabavam por deixar cair as bolas, ou nem conseguiam pegar nelas. Era necessário que alguns poucos neurónios "saíssem do ar" por um terço de segundo para que as falhas ocorressem, destacaram os investigadores. Dos 20 neurónios em estudo, 18 permaneceram acordados. Nos outros dois, havia sinais de sono, com alternância entre períodos breves de actividade e períodos de silêncio.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Cometas podem conter água em estado líquido

Equipa de cientistas afirma ter encontrado provas do que até agora se pensava ser impossível

2011-04-12
Amostras do Wild-2 foram trazidas para a Terra em 2006 pela missão Stardust
Amostras do Wild-2 foram trazidas para a Terra em 2006 pela missão Stardust
Cientistas afirmam ter encontrado provas de presença de água em estado líquido num cometa, algo que até agora se pensava ser impossível, já que os núcleos dos cometas nunca aquecem o suficiente para que o gelo de que são formado derreta.

Segundo Dante Lauretta, especialista em química espacial e formação planetária e investigador principal da missão Stardust da NASA, é “impossível, segundo as ideias actuais, que se forme água líquida num cometa”. No entanto, um grupo de cientistas do Centro Espacial Johnson e do Laboratório de Investigação Naval, liderado por Eve Berger, da Universidade do Arizona, acaba de demonstrar o oposto num estudo a ser publicado na «Geochimica et Cosmochimica Acta».
A equipa analisou grãos de pó do cometa Wild-2, trazidos para a Terra em 2006 pela missão Stardust. A nave, lançada em 1999, recolheu em 2004 amostras da cauda do cometa e enviou-as numa cápsula fechada em Janeiro de 2006 para um deserto no estado de Utah. Nas amostras foram encontrados minerais que apenas se formam na presença de água em estado líquido. “Em algum momento da sua história, o cometa teve de ter bolsas de água”, concluem os cientistas.

As amostras analisadas em partículas microscópicas (do tamanho de uma célula) e foram analisadas com microscópios electrónicos e raios X. Demonstrou-se que este cometa passou por períodos quentes que favoreceram reacções químicas na água e que mudaram a composição dos minerais que herdaram dos tempos da formação do Sistema Solar.

A água quente terá dissolvido os minerais que estavam presentes naquele momento e precipitou a formação de ferro e sulfato de cobre. Os sulfatos formam-se entre os 50 e os 200 graus centígrados, uma temperatura muito maior do que a prevista no interior de um cometa.

O mineral encontrado por Berger chama-se cubanite (CuFe2S3) e segundo a investigadora é muito raro encontrá-lo em amostras vindas do espaço. “A cubanite que encontrámos só se forma a temperaturas a partir dos 210 graus.

Se este mineral se formou no cometa isso tem implicações sobre as fontes de calor dos cometas em geral. Para Eve Berger existem duas formas de gerar fontes de calor num cometa: uma colisão com outro objecto ou a desintegração radioactiva de elementos presentes no próprio núcleo do cometa.

Excesso de trabalho faz mal ao coração

Estudo britânico alerta para aumento do risco cardíaco

2011-04-12
Participaram no estudo mais de sete mil pessoas
Participaram no estudo mais de sete mil pessoas
As doenças cardíacas podem ter uma maior incidência em quem trabalha em demasia. Segundo um estudo britânico publicado na revista "Annals of Internal Medicine”, trabalhar mais de 11 horas por dia, ao invés das sete ou oito recomendadas, aumenta o risco cardiovascular em 95 por cento.

Os investigadores não conseguiram, no entanto, determinar se as longas horas de trabalho são, em si, um factor de risco ou se favorecem outros factores que podem prejudicar o coração como maus hábitos alimentares, falta de exercício ou depressão.

O estudo contou com a participação de mais de sete mil adultos, entre os 39 e os 62 anos, que trabalhavam a tempo inteiro e que não apresentavam problemas cardíacos entre 1991 e 1993, altura em que realizaram os primeiros exames médicos para esta investigação. Estes serviram como termo de comparação a outros realizados mais tarde, para verificar o impacto do excesso de trabalho.

Os autores desta investigação acreditam que os dados obtidos podem ajudar os especialistas médicos a determinarem o risco que os seus pacientes têm de apresentar problemas do foro cardíaco, tendo em conta outros factores, tais como pressão arterial, diabetes ou tabagismo.

"As pessoas que trabalham muitas horas devem ter um cuidado especial e seguir uma alimentação saudável, fazer exercício físico e manter a pressão arterial, o colesterol e os níveis de açúcar dentro dos limites saudáveis", apontou Mika Kivimaki, especialista da Universidade College London que liderou o estudo.

As doenças cardiovasculares, como enfartes agudos do miocárdio ou acidentes vasculares cerebrais, matam mais de 17 milhões de pessoas anualmente, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Afinal nem sempre parar é morrer!

sexta-feira, 8 de abril de 2011

"Leite humano" produzido por vacas

Animais foram geneticamente modificados por investigadores chineses

2011-04-06
Vacas modificadas são da raça Holstein
Vacas modificadas são da raça Holstein
Investigadores chineses conseguiram introduzir genes humanos em 300 vacas leiteiras para que estas produzissem leite com características semelhantes às do leite humano, noticiou o jornal inglês "The Telegraph".

O leite humano possui maior quantidade de nutrientes e pode ajudar no desenvolvimento do sistema imunitário e na redução do risco de infecções em bebés.

De acordo com o grupo de cientistas, o leite modificado pode funcionar como um substituto mais eficiente ao leite comum de vaca. "Como alimento diário, o leite de vaca é uma fonte básica de nutrição. Contudo, problemas de digestão e de absorção fazem com que não seja o alimento perfeito para o ser humano", afirmou Ning Li, investigador da China Agricultural University, responsável pelo projecto.
A equipa chinesa utilizou tecnologia de clonagem para introduzir genes humanos no DNA de vacas da raça Holstein. Em seguida, embriões geneticamente modificados foram colocados nas vacas. O leite resultante possui a enzima humana Lisozima, uma proteína antimicrobiana que protege os bebés de infecções.

Segundo Ning Li, o consumo do leite modificado é tão seguro quanto o de leite bovino comum. No entanto, uma das questões que ainda afasta o projecto do mercado consumidor são os problemas relacionados com a ética e segurança de alimentos geneticamente modificados.

Vídeo da NASA mostra Curiosity a chegar a Marte

Animação sobre o que se passará em 2012 foi construída a partir de fotografias da HiRISE

2011-04-07


Em Agosto do próximo ano vai chegar a Marte o novo veículo robótico criado pelo Laboratório de Propulsão a Jacto (JPL, da NASA), o Curiosity. Será utilizado um complexo sistema de aterragem, com um módulo auxiliar, que permitirá que o veículo seja depositado suavemente no solo marciano. O JPL criou um vídeo de animação onde se pode ver com bastante pormenor como será o início da expedição do sucessor do Spirit e do Opportunity.
No vídeo pode ver-se com precisão o sítio onde vai pousar o veículo, isto porque as imagens foram criadas a partir de dados da câmara HiRISE do satélite MRO (Mars Reconnaissance Orbiter) que actualmente orbita o Planeta Vermelho e que fotografou com todo o pormenor o local.

No entanto, alguns dos instrumentos do novo veículo não estavam completamente terminados, pelo que teve de construir-se a imagem a partir dos primeiros desenhos, combinando-os com centenas de fotografias de partes já terminadas.

A equipa está já a trabalhar numa versão mais comprida e completa do vídeo.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Restos mortais da modelo de "Mona Lisa" vão ser exumados

Investigadores italianos querem iniciar trabalho no final de Abril

Crê-se que Lisa Gherardini foi a modelo de Da Vinci
Crê-se que Lisa Gherardini foi a modelo de Da Vinci
Investigadores italianos vão começar, a 27 de Abril, os trabalhos de pesquisa e exumação dos restos mortais de Lisa Gherardini de Giocondo, considerada a modelo que posou para "A Mona Lisa", de Leonardo da Vinci.

Segundo a agência EFE, os trabalhos decorrerão no antigo convento de Santa Úrsula de Florença, onde um recente reconhecimento com geo-radar permitiu localizar uma cripta sob uma das suas duas igrejas, sítio onde os investigadores crêem que poderão ser descobertas sepulturas do século XVI, entre elas a de Lisa Gherardini.
A equipa italiana pretende realizar provas de ADN aos restos mortais que forem encontrados, para depois compará-los com os dos filhos de Lisa Gherardini de Giocondo (1479-1542) que estão sepultados na Igreja da Santíssima Anunciação de Florença.

Do grupo de investigadores fazem parte geólogos, antropólogos e historiadores de arte.

De acordo com os teóricos, Lisa Gherardini, mulher de Francisco de Giocondo, um comerciante de sedas, posou para o pintor renascentista Leonardo da Vinci (1452-1519) por encomenda do marido.

O famoso quadro está exposto no Museu do Louvre, em Paris

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Queres ser...químico(a)?

Fonte: www.cienciahoje.pt

Caminhos profissionais *

2011-04-05
Por Carla Sofia Flores
Química
Química "conduz a descobertas fascinantes"
A Química em geral é "uma ciência incompreendida e mal amada", estando geralmente associada, pelo grande público, a processos poluentes, toxicidade e algum risco. Contudo, "está no centro da resolução dos grandes problemas da humanidade" e o seu contributo para a sociedade actual é imenso e está tão entrosado no nosso quotidiano, que nem nos apercebemos dele.

Se olharmos à nossa volta, quase tudo tem o dedo de um químico ou bioquímico: do mais básico, como o que comemos, bebemos ou vestimos, ao mais sofisticado, como os monitores de cristais líquidos  ou os materiais ultra-leves das bicicletas de montanha. São estes cientistas que realizam e inventam métodos para a produção e análise das matérias-primas e produtos acabados de muitas indústrias, cuja origem nem questionamos. 
 
Sendo que 2011 foi proclamado o Ano Internacional da Química (AIQ), é imperativo então esclarecer aquilo que um profissional desta área faz e qual a oferta formativa em Portugal. O "Ciencia Hoje" ("CH") falou com vários especialistas e estudantes portugueses para agora dar a conhecer aos mais jovens que tenham um potencial interesse neste campo científico aquilo que os espera.

* Caminhos profissionais é a rubrica do "Ciência Hoje" que desvenda segredos de uma eventual futura carreira
Num mundo em constante evolução e desenvolvimento os desafios não cessam e novos se adivinham. E se um dia se conseguisse transformar o petróleo, de um "modo verde", em novos materiais? E se fosse possível fazer o dióxido de carbono regressar à forma condensada, descobrindo métodos de o fixar sem o libertar para a atmosfera? Estes parecem desafios megalómanos, mas são, na verdade, parte daqueles que se apresentam aos químicos de hoje e de amanhã, cujo trabalho  será preponderante na sua resolução.

Carlos Corrêa é o conselheiro do "Ciência Hoje" para o AIQ
O que é um químico?
 
Na opinião de Michael Smith, director do Departamento de Química da Universidade do Minho (UM),  um químico pode ser comparado a um investigador policial na medida em que ambos os perfis profissionais não divergem muito em vários aspectos."Tal como o investigador policial, deve ser capaz de observar e registar, de uma maneira sistemática e precisa, os dados experimentais. Depois de recolher as suas 'provas' deve racionalizar e analisar criticamente o que é relevante, com persistência e determinação; procurar a informação suplementar necessária para completar a sua análise e, finalmente, propor uma explicação consistente que seja capaz de explicar as observações e levá-lo até à sua conclusão", afirmou. 
 
Já Carlos Corrêa, professor emérito da Universidade do Porto (UP), acredita que a curiosidade em relação às transformações que a matéria sofre quando sobre ela exercemos uma qualquer acção é primordial para se ser um bom profissional: "Deve-se querer sempre saber o que se passa, por que se passa e o que se passará, se a acção for diferente".
Cursos superiores em Portugal
Os cursos superiores em Química ou outros campos que a abarcam, como a Bioquímica, são  leccionados em quase todas as universidades portuguesas. Embora nunca tenha sido elaborado um ranking que liste as instituições com  melhor oferta formativa nesta área, de acordo com Carlos Corrêa, conselheiro do "CH" para  o AIQ, "o melhor método para avaliar a qualidade dos departamentos de Química é o de verificar a produção científica a partir do número e qualidade dos trabalhos aceites para publicação em revistas internacionais".

Química é uma ciência central que faz fronteira com muitas outras
Química é uma ciência central que faz fronteira com muitas outras
Assim sendo, segundo um trabalhoefectuado pelo Laboratório Associado  REQUIMTE  sobre as publicações para o quinquénio 2003-2007, a UP  lidera a produção portuguesa na área da Química, com 21 por cento do total. Seguem-se, por ordem, a Universidade Técnica de Lisboa (UTL),  com 821 documentos, a Universidade de Aveiro (UA), a Universidade de Coimbra (UC) e a Universidade Nova de Lisboa (UNL).

Algumas destas academias destacam-se também por algumas especificidades nos cursos que leccionam. Enquanto a UNL dispõe de uma  licenciatura única no país - em Química Aplicada: Biotecnologia e Química Orgânica -, na UM, o primeiro ciclo desta área "é diferente de outras ofertas formativas, uma vez que o curso está organizado em três ramos: Científico, Materiais Plásticos e Materiais Têxteis", esclareceu Michael Smith, acrescentando que estes são escolhidos depois de um primeiro ano comum.  Já a licenciatura em  Química da UA foi a primeira do país a receber a chancela “Eurobachelor”, ou seja, a ser reconhecida como curso de nível europeu.

Onde estão as oportunidades?

Em todo o lado!  Os investigadores contactados pelo "CH" foram unânimes ao afirmar que a Química é das área que mais saídas profissionais garantem na actualidade, visto que as exigências do mundo em que vivemos, cada vez mais baseado na ciência e na tecnologia, levam a uma procura crescente de especialistas nesta área. Alguns países do centro e norte europeus até têm falta de graduados neste campo, tornando-o num dos que garante mais emprego.  Além disso, há estudos indicadores de que, em Portugal, a taxa de desemprego de diplomados em Química é inferior à média nacional de outros com cursos concluídos entre 2000 e 2010 noutras disciplinas.

Informações Úteis
Sociedade Portuguesa de Química 
www.spq.pt
Tel.: 21 793 4637
E-mail: sede@spq.pt

Ano Internacional da Química
www.chemistry2011.org
E-mail: info@iyc2011.org

L.A. REQUIMTE
www.requimte.pt
E-mail: isabel@dq.fct.unl.pt / mpcunha@fc.up.pt

Acesso ao Ensino Superior
www.dges.mctes.pt/DGES/pt
Telefone: 213 126 000
E-mail: dges@dges.mctes.pt / secretariado@dges.mctes.pt 
A Europa, por reter 30 por cento da indústria química mundial (com mais de 1,2 milhões de trabalhadores) apresenta-se como um grande nicho de oportunidades, salientou Maria João Ramos, presidente do Departamento de Química e Bioquímica da Faculdade de Ciências da UP. "Para além do emprego directo na indústria química, há uma vasta área de emprego nos serviços, nomeadamente no controlo ambiental e de segurança alimentar de água e do ambiente atmosférico", afirmou.

Isabel Moura, responsável pelo Departamento de Química da Faculdade de Ciência e Tecnologia da UNL, para além de reforçar a ideia de que outros países da União Europeia são boa alternativa a Portugal, destacou que alguns  ex-alunos desta instituição conseguiram singrar em carreiras bastante distintas no seu país de origem. Alguns trabalham em Química Forense, em laboratórios de Polícia Científica, enquanto outros encontraram emprego em  laboratórios de análises e de controlo de qualidade. Há ainda aqueles que fazem investigação em empresas farmacêuticas, em institutos públicos e em universidades, os que seguiram carreiras académicas e os que  fundaram empresas baseadas em actividades científicas.

Como se pode verificar, "os jovens com formação nestas áreas têm saídas profissionais diversas" que se expandem aos domínios da saúde; aos produtos farmacêuticos,  alimentares e  agrícolas (adubos, herbicidas ou pesticidas) aos materiais avançados e compósitos (têxteis, cerâmicos e polímeros, incluindo biopolímeros com potencias aplicações médicas) e ao ambiente, resumiu Michael  Smith.

Dada a multiplicidade de vertentes desta ciência, Paulo Ribeiro Claro, do Departamento de Química da UA,  acentuou ainda que há conhecimentos que vão adquirindo outras designações: "farmacologia, bioquímica, ciência dos materiais, biotecnologia, biologia molecular, nanociências, etc". O especialista acredita que "no futuro, a química continuará a ser uma ciência central para o progresso da sociedade". Porém, não garante que continue a ter a mesma nomenclatura.

O fascinante mundo da Química

A Química está em tudo o que nos rodeia (Imagem: Ken Costello)
A Química está em tudo o que nos rodeia (Imagem: Ken Costello)
"Estudar Química é obter um ponto de vista privilegiado para compreender o mundo contemporâneo",
 entende Isabel Moura. Michael Smith concorda, dizendo que na escolha desta ou de qualquer outra área "é essencial acertar numa actividade que possa manter o nosso interesse durante a maior parte da nossa vida profissional". Neste sentido, a Química é "uma boa opção", pois "é estimulante ao nível académico e repleta de desafios e oportunidades para desenvolver projectos originais na interface com outras ciências".
Paulo Ribeiro Claro acrescenta que "a Química conduz realmente a descobertas fascinantes". Já Maria João Ramos subinha a "afirmação crescente desta área na nossa sociedade", pelo que os jovens que queiram seguí-la têm "melhores garantias de segurança profissional num mundo imprevisível como aquele em que vivemos".

Para além dos testemunhos destes especialistas com largos anos de experiência, o "CH" conheceu a opinião de jovens portugueses que estão a trilhar um percurso académico neste campo. Uns estão a iniciá-lo e outros a terminá-lo, mas todos têm como denominador comum o sonho de poderem viver desta ciência que, embora exacta, é encarada como uma paixão.

Marta Costa, 29 anos, Doutoramento em Química na UM
Há alguns anos, ainda no ensino básico, Marta Costa constatou que "tudo" à sua volta "era Química". Hoje está prestes a  finalizar o Doutoramento e o encanto continua: "Esta ciência é realmente fascinante e todos os dias temos Química na nossa vida! Ainda há tanto para perceber e descobrir. O tédio é inexistente, tudo é tão interessante", conta entusiasmada.

Há uns meses, as suas expectativas de continuar em Portugal eram muito baixas. Contudo,  encontrou recentemente um emprego na indústria, um privilégio, na sua opinião. "Realço que este não é o desfecho natural de quem tira um Doutoramento em Química no nosso país", sendo que, em geral, as pessoas acabam por viver de pós-doutoramento em pós-doutoramento". Esclareceu que, embora não seja um "mau desfecho", "viver de bolsa em bolsa não é certamente o que se deseja depois de tanto estudo e esforço". 
Tânia Moniz, 23 anos, Mestrado em Bioquímica na UP
A vontade de desenvolver novos fármacos levou-a a enveredar por este caminho, estando agora a trabalhar num tratamento que pode ser aplicado à tuberculose. Considera a avaliação do potencial biológico dos compostos que pode projectar a função mais deslumbrante da Química.

"O gosto pelaquímica, sobretudo a médica, está cada vez mais enraizado", garantiu, acrescentando que, para o projecto de investigação de mestrado está a dar continuidade ao desenvolvimento de novas moléculas capazes de surtir um efeito antimicrobiano, que podem ser futuramente usadas no tratamento de doenças infecciosas, tal como a tuberculose. Embora almeje uma carreira na investigação, não descarta um trabalho na indústria. "É uma experiência a considerar e que gostaria igualmente de vivenciar", concluiu.
João Martins, 23 anos, Licenciatura e Mestrado em Química na UP
Sempre planeou formar-se em Informática, mas "à última da hora" quis algo mais abrangente. Foi "contagiado" por um professor de Química no 12º ano e agora pretende continuar a sua formação académica "até obter o grau de doutor". Já integrou grupos de investigação existentes no Departamento de Química da sua universidade para adquirir "experiência e conhecimento na área". Optou pela Química Teórica e agora pondera fazer a sua tese de mestrado junto do grupo em que se enquadra actualmente.

O aluno da UP destaca que o seu fascínio pela Química prende-se com a "sua abrangência e aplicação tão vasta", lamentando que este tipo de informação não esteja disponível para quem decide o curso a tomar no fim do ensino secundário.
Clara Pereira, 30 anos, Doutoramento em Química na UP
A sua vocação para esta ciência confirmou-se durante um Natal, aos 12 anos, quando a mãe lhe ofereceu um jogo sobre Química. "Passávamos horas e horas a fazer experiências, deslumbradas com as mudanças de cor ou com a libertação de gases", recordou. Esta "paixão" sedimentou-se no secundário, mas foi o "desejo de ter um papel activo na resolução de problemas ambientais e da sociedade" que determinou a escolha da área.

Aos 30 anos, Clara Pereira continua fascinada com "os contínuos desafios que vão surgindo quando se investiga um problema, as descobertas diárias e os novos rumos que se vão definindo na busca de soluções". O seu objectivo é continuar a trabalhar em investigação na área da Nanoquímica, nomeadamente na produção/concepção de novos nanomateriais e dispositivos multifuncionais que contribuam para o bem-estar da Humanidade, pelo que gostaria de desenvolver novos projectos em parceria com empresas e outros centros de investigação. 
Filipa Gomes, 23 anos, mestrado de Técnicas de Caracterização e Análise Química na UM
Quando concorreu ao ensino superior, esteve indecisa entre os cursos de Psicologia e Química, mas "felizmente", disse, ingressou no último. No primeiro ano de licenciatura ainda ponderou mudar, mas o facto de a Química ser uma "ciência estruturante", limpou todas as suas incertezas, "deslumbrando-a", sobretudo "a adrenalina que se sente no laboratório".

A mestranda da UM  destacou as iniciativas promovidas pela sua universidade para a divulgação da Química. Já participou em vários projectos de investigação que abordaram áreas diferentes, tendo já desenvolvido trabalho no CeNTI (Famalicão). Actualmente, está a realizar a tese de mestrado num centro da área da medicina regenerativa (3B’s), mas planeia tirar o doutoramento e continuar a fazer "o que realmente gosta: investigação em Química". 
Ana Mesquita, 20 anos, licenciatura em Bioquímica na UM
A vontade de seguir uma área relacionada com Química surgiu desde criança. "Sempre desejei experimentar e inventar algo novo que pudesse, de alguma forma, melhorar a qualidade de vida de todos", referiu, acrescentando que os professores ajudaram-na a achar esta disciplina "cada vez mais entusiasmante", por "ser essencial para a desmistificação das outras ciências".

Da licenciatura que está prestes a terminar, Ana Mesquita destaca a sua "multidisciplinaridade", uma vez que contempla conhecimentos de química, biologia, física e matemática, e "as unidades curriculares mais específicas" que, "nunca colocam de parte o lado prático, imprescindível para um futuro bioquímico".  Futuramente, a aluna da UM pretende complementar os seus estudos para poder desempenhar funções em áreas de investigação. "É para isso que trabalho todos os dias", concluiu.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Glóbulos vermelhos jovens contribuem mais para doenças cardiovasculares

Estudo do IMM publicado esta semana na PLoS ONE

Filomena Carvalho, primeira autora do estudo
Filomena Carvalho, primeira autora do estudo
Cientistas do Instituto de Medicina Molecular (IMM), em Lisboa, recorreram às nanotecnologias para perceber a relação entre a idade dos glóbulos vermelhos (eritrócitos) e a tendência para a sua excessiva agregação, um factor de risco cardiovascular.

Descobriram a existência de um receptor específico na membrana dos eritrócitos que acolhe o fibrinogénio, uma proteína do plasma sanguíneo que agrega glóbulos vermelhos. "Doentes com grande concentração desta proteína tendem a ter um sangue mais viscoso, o que dificulta a a circulação, podendo provocar problemas cardiovasculares", frisou Nuno Santos, líder da equipa de investigação, em conversa com o "Ciência Hoje". De acordo com o investigador, a integrina, nome deste receptor "apresenta duas subunidades (proteínas) que funcionam juntas, tendo sido identificado o gene responsável pela expressão de cada uma delas".

Também se concluiu que esta ligação entre o fibrinogénio e o seu receptor nos glóbulos vermelhos pode ser perdida, mascarada ou progressivamente tornada não funcional com o processo de envelhecimento destas células no sangue, pelo que os investigadores acreditam que os eritrócitos jovens são os que mais contribuem para as doenças cardiovasculares associadas à sua excessiva agregação.
Este estudo, publicado esta semana na revista "PLoS ONE", abre portas a um conhecimento mais aprofundado sobre estes mecanismos moleculares e poderá contribuir assim para o desenvolvimento de novos tratamentos que actuem na prevenção de patologias vasculares como a hipertensão arterial ou o enfarte agudo do miocárdio.

Nanotecnologia fundamental para este estudo

Nuno Santos espera novos resultados desta linha de investigação ainda este ano
Nuno Santos espera novos resultados desta linha de investigação ainda este ano
Nuno Santos explicou que "o tempo de vida entre a ligação do fibrinogénio aos glóbulos vermelhos não é suficientemente alto para ser estudado pelas metodologias convencionais". Desta forma, a equipa do IMM teve de recorrer a um microscópio de força atómica para "pescar" o receptor na membrana dos glóbulos vermelhos e poder estudar a sua interacção à"nano-escala" com o fibrinogénio.

"A espectroscopia de força [utilização deste microscópio] é uma das metodologias de eleição na área da nanomedicina", referiu, pois permite estudar as forças que se estabelecem entre duas moléculas. No caso deste estudo, constatou-se que, embora a força de ligação seja idêntica em todos os glóbulos vermelhos, a frequência de ligação do fibrinogénio aos mais jovens é maior, sugerindo que esta população tem uma maior influência em potenciais problemas cardiovasculares resultante da agregação destas células sanguíneas.

Este trabalho surge na sequência de outro anterior já publicado pela equipa liderada por Nuno Santos, mas esta linha de investigação tem ainda um terceiro estudo a decorrer. "Esperamos que surjam novos resultados ainda este ano", concluiu Nuno Santos.

As doenças cardiovasculares, que atingem meio milhão de portugueses, são responsáveis por entre 35e 40 por cento dos óbitos no país. Além disso, são apresentadas como a primeira causa de morte, doença, incapacidade e custos em saúde em Portugal.

Cientistas querem chegar ao manto terrestre nos próximos dez anos

Nos próximos cinco anos serão analisadas três localizações do Oceano Pacífico que poderão servir para perfurações

Os investigadores acreditam ser possível chegar ao
Os investigadores acreditam ser possível chegar ao "interior" da Terra
Depois do abandono do projecto Mohole, realizado no início dos anos 60 e que tinha como objectivo chegar ao manto terrestre, os cientistas falam agora da hipótese de o retomarem.

Na revista «Nature», a propósito do 50º aniversário do Mohone, os investigadores Damon Teagle, da Universidade de Southampton (Reino Unido) e Benoît Ildefonse, da Universidade de Montpellier (França), afirmaram que as tecnologias de hoje já permitem realizar perfurações para serem obtidas amostras do manto da Terra. Os trabalhos poderiam desenrolar-se no espaço de uma década.
O manto é a camada que se encontra entre a crosta e o núcleo e que constitui a maior parte do planeta (vai de 30 a 60 quilómetros abaixo dos continentes, mas apenas seis abaixo dos oceanos, até ao núcleo, que se encontra a 2890 quilómetros). A sua análise seria muito importante para se conhecer melhor as origens e a evolução do planeta.

A ideia da investigação partiu de um grupo de geocientistas, em 1957. Patrocinado por uma comissão especial da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, o projecto Mohole tinha como objectivo perfurar a crosta debaixo do mar até se chegar ao manto. Foram realizados, em 1961, cinco buracos na costa da Ilha de Guadalupe (México), mas só foi possível alcançar 183 metros de profundidade, o terço do desejado. Ainda assim, as amostras revelaram-se valiosas, fornecendo informações sobre o Mioceno.

Depois do perfurador, que utilizava diamantes para conseguir furar a rocha, se ter partido, o projecto foi abandonado pelos financiadores. Agora, os cientistas querem recuperá-lo e anunciaram já que durante os próximos cinco anos vão realizar medições em três localizações do Oceano Pacífico que poderão servir para futuras perfurações, as costas do Havai, da Baixa Califórnia (México) e da Costa Rica.

Este projecto vai utilizar, possivelmente, uma tecnologia japonesa chamada Chikyu. Os investigadores afirmam que será preciso muito dinheiro para levar a cabo as experiências, mas “não tanto como enviar um foguetão à Lua”.

Bicentenário do nascimento de Bunsen

Nos seus trabalhos de espectroscopia desenvolveu queimadores de gás, ficando célebre o chamado Bico de Bunsen

Bicos de Bunsen antigos
Bicos de Bunsen antigos
Comemorou-se ontem, 31 de Março, em pleno Ano Internacional da Química, o bicentenário do nascimento de Robert Bunsen, nome bem conhecido de todos aqueles que algum dia pisaram um laboratório de Química e utilizaram o tradicional bico de Bunsen, no aquecimento de misturas reaccionais.

* Professor Emérito da Universidade do Porto. Conselheiro de «Ciência Hoje» para Ano Internacional da Química
O químico Robert Wilhelm Eberhard Bunsen nasceu na cidade alemã de Gottingen em 30 ou 31 de Março de 1811 e faleceu em Heidelberg em 16 de Agosto de 1899. Realizou importantes trabalhos sobre espectroscopia, fotoquímica e electroquímica, descobriu os elementos césio e rubídio, desenvolveu novos métodos analíticos, nomeadamente análise de gases, e estudou compostos orgânicos de arsénio (como o cocodil [tetrametildiarsano, (CH3)2As-As(CH3)2] e sais do ácido arsenioso, descobrindo o efeito antídoto de óxidos de ferro no envenenamento por arsénio. Nos seus trabalhos de espectroscopia desenvolveu queimadores de gás, ficando célebre o chamado Bico de Bunsen.

Doutorado em Química em 1831 (Ph. D. pela Universidade de Gottingen), foi docente nesta Universidade durante alguns anos e em 1836 sucedeu a Wohler (o químico que sintetizou pela primeira vez um composto orgânico - a ureia - a partir de reagentes minerais, dando um rude golpe na teoria da força vital, que considerava os compostos orgânicos inacessíveis por meio de síntese) no Instituto Politécnico de Kassel aceitando posteriormente um lugar de professor associado na Universidade alemã de Mardburg, onde se tornou Professor em 1841.

Bunsen foi um químico altamente considerado, não só pelas suas descobertas, mas pela sua dedicação ao ensino e aos seus alunos, sendo extremamente querido pelos seus discípulos. Era um cientista dedicado e desprendido, nunca procurando obter ganhos económicos com as suas descobertas.

O actual Prémio Bunsen-Kirchhoff para espectroscopia foi instituído em homenagem a estes dois importantes cientistas.

Universidade de Évora aposta em carvão de cortiça

Material tem qualidade superior ao comercial

Carvão pode ser mais uma saída para os desperdícios de cortiça
Carvão pode ser mais uma saída para os desperdícios de cortiça
A Universidade de Évora foi pioneira na transformação de desperdícios de cortiça em carvão activado, material de carbono com inúmeras aplicações, e quer agora criar um produto específico, superior ao comercial, capaz de interessar o mercado.

“O mercado está cheio de materiais nesta área e a grande vantagem” para atrair a indústria “será encontrar um material que se distinga dos outros”,afiançou hoje à Agência Lusa Paulo Mourão, da academia alentejana.

O investigador do Centro de Química de Évora revelou ser essa a linha da investigação em curso. Criar um carvão activado a partir de cortiça com “um desempenho diferente do clássico em relação a determinado poluente ou molécula”. “Aí, abre-se um nicho de mercado e é nisso que estamos a trabalhar, tentar encontrar um casamento mais forte e duradouro do que aquilo que existe entre um dos nossos carvões activados e determinada molécula”, disse.
O Centro de Química de Évora acumula, há mais de 20 anos, experiência na área dos carvões activados. Com a tese de doutoramento de Paulo Mourão, num trabalho entre 1998 e 2006, a academia foi pioneira na sua obtenção a partir da cortiça.

A cortiça juntou-se, então, ao leque de materiais precursores que, mediante processos químicos e físicos, origina carvão activado, como recursos naturais (subprodutos agrícolas), produtos sintéticos (polímeros) e resíduos industriais. Este material é capaz de absorver (reter substâncias de um fluído na sua superfície sólida e volume poroso acessível) moléculas diversas, poluentes ou outros compostos e tem aplicações cada vez mais variadas.

Mundialmente, o consumo de carvão activado chega às megatoneladas
Mundialmente, o consumo de carvão activado chega às megatoneladas
“As mais conhecidas”
, realçou, são nos tratamentos das águas residuais ou potáveis, gases, zonas poluídas e também em células de combustível das pilhas de armazenamento de energia dos carros de nova geração. Mas está também presente no dia a dia, com aplicações “mais básicas”,nomeadamente para “combater”odores, como nas palmilhas dos sapatos e em vários tipos de filtros, do frigorífico ao exaustor ou ao ar condicionado.

A nível mundial, o consumo de carvão activado “chega hoje às megatoneladas”, mas, em Portugal, referiu Paulo Mourão, “não seriam viáveis” os custos da produção em larga escala do produto. Sobretudo recorrendo à cortiça, cujos desperdícios originam vários subprodutos comerciais.

“Será complicado, porque há outras fontes no mundo e a indústria não está localizada em Portugal”, disse. Mas a situação pode alterar-se, caso o investigador obtenha um produto muito específico e superior ao comercial, que seria rentável. Aí, assegurou, poderia despertar o interesse do agricultor que possui uma área de montado, abundante no Alentejo, e até o “apetite” da indústria da cortiça, oferecendo-lhe um novo encaminhamento para os desperdícios.

“Estamos a trabalhar nessas áreas, vamos testando os nossos materiais. Em determinadas condições, parece-nos que será possível preparar materiais com características acima das normais”, limitou-se a desvelar, para já, Paulo Mourão.

Encontrados cinco genes envolvidos na doença de Alzheimer

"Nature Genetics" publica os dois trabalhos responsáveis por esta descoberta

Grande maioria de casos de Alzheimer ocorrem depois dos 65 anos
Grande maioria de casos de Alzheimer ocorrem depois dos 65 anos
Um grupo internacional de cientistas anunciou ontem que foram encontrados mais cinco genes que aumentam o risco de desenvolver Alzheimer, o que duplica o número de variantes genéticas conhecidas que favorecem o aparecimento da forma mais comum da doença.

Segundo os investigadores envolvidos, esta descoberta, descrita em dois artigos publicados na "Nature Genetics", pode fornecer novas pistas sobre as causas que despoletam esta doença complexa e incurável, além de ajudar os médicos a prever casos de maior risco.

Este foi o maior trabalho realizado até ao momento sobre a origem do Alzheimer. Envolveu três centenas de cientistas de dois consórcios que sequenciaram os genomas de 54 mil pessoas, algumas vítimas desta doença e outras não, a fim de descobrir novas variações genéticas. Embora ambos os projectos tenham começado independentemente, a troca de dados permitiu a cada grupo confirmar as suas conclusões.
De acordo com Gerard Schellenberg, investigador da Universidade da Pensilvânia e líder de um dos estudos, antes desta investigação já se conheciam cinco genes responsáveis pelo Alzheimer de "início tardio", isto é, que afecta pessoas com mais de 65 anos, sendo que a probabilidade de desenvolvimento dessa forma da doença (que corresponde a 90 por cento dos casos) duplica a cada cinco anos.

Os cinco genes agora descobertos - MS4A, ABCA7, CD33, EPHA1 e CD2AP - "vêm aumentar o entendimento do papel da hereditariedade no início tardio", explicou Gerard Schellenberg, acrescentando que ainda haverá outros genes a descobrir.
Tratamentos actuais apenas mascaram sintomas ou abrandam avanço da doença
Tratamentos actuais apenas mascaram sintomas ou abrandam avanço da doença
“Se pudéssemos eliminar os efeitos negativos de todas as dez variantes
[dos genes],eliminávamos 60 por cento da doença”, disse Julie Williams, líder do outro estudo e investigadora da Universidade de Cardiff, no Reino Unido.

O investigador da Pensilvânia acredita que o passo mais importante para se perceber a origem da doença será a compreensão dos mecanismos fisiológicos por detrás das suas causas.

Segundo a cientista de Cardiff, os genes agora encontrados sinalizaram um novo mecanismo que nunca tinha sido associado ao desenvolvimento da doença. Trata-se da endocitose, um processo relacionado com a forma muito específica como uma célula transporta moléculas grandes do exterior para dentro de si. O facto de alguns destes genes estarem implicados neste processo "dá uma grande pista de que a endocitose tem um papel relevante no desenvolvimento da doença de Alzheimer”, afirmou Williams.

Schellenberg tem ainda o objectivo de desenvolver medicamentos capazes de interromper ou até evitar o progresso da doença. Assim sendo, "biólogos moleculares que trabalham nos mecanismos da doença agora precisam descobrir exactamente a ligação destes genes com o processo do Alzheimer". Os tratamentos actuais são apenas "marginalmente eficientes" ao mascarar sintomas ou desacelerar o avanço inevitável da enfermidade, lamentou Schellenberg.

A descoberta biológica do Brasil


"A descoberta de um novo mundo habitado por povos e por uma natureza então desconhecidos foi o fato mais extraordinário e decisivo da história moderna ocidental"
A descoberta de um novo mundo habitado por povos e por uma natureza então desconhecidos foi o fato mais extraordinário e decisivo da história moderna ocidental. Este fato desencadeou uma vasta elaboração de discursos e visões sobre esta nova natureza descoberta.

A carta de Pero Vaz de Caminha, cronista da descoberta portuguesa do Brasil, ao rei D. Manuel costuma ser considerada o primeiro documento literário sobre o Brasil. Caminha era um letrado, de formação humanista; assim ele se mostra muito mais interessado em descrever os povos indígenas e seus costumes do que a natureza, o ambiente e os recursos do mundo que via, algo que eventualmente até teria até mais interesse para a Coroa portuguesa.

* Engenheiro florestal, doutorado em Meio Ambiente e Desenvolvimento (Brasil)
Mesmo assim, é no documento de Caminha que aparecem os primeiros registros de aves, peixes, repteis e também uma descrição, no mínimo acertada, da nova terra. “Pelo sertão nos pareceu, vista do mar, muito grande, porque, a estender olhos, não podíamos ver senão terra com arvoredos, que nos parecia muito longa” (1).

Do levantamento que Cândido de Mello Leitão, elaborou em 1937, da história da biologia no Brasil (2), podemos constatar que esta ciência estava em estágio embrionário nos anos 500. Assim, o que tivemos no Brasil, por certo tempo, foram cronistas, mais ou menos espantados com a natureza brasileira, mas que se limitaram a descrever animais e plantas vistos de passagem pelo país. É o caso de Caminha e também de Américo Vespúcio, Francisco Pigafetta (cronista da viagem de Fernão de Magalhães), do espanhol Cabeza de Vaca e de Ulrich Schmidel e Hans Staden, alemães que chegaram a viver alguns anos no Brasil.

Mas existem exceções. Mello Leitão considera o jesuíta José de Anchieta o fundador da história natural do Brasil. É de 1560 uma epístola de Anchieta que descreve, ainda com uma certa dose de fantasia, a flora e a fauna brasileira. Mas ele segue um método, o método quinhentista, que classifica a fauna em “aquáticos, terrestres e aéreos”. Anchieta refere-se, desta forma, a 25 animais, que vão de grandes mamíferos a invertebrados, incluindo, ainda, sete espécies de serpentes, a respeito das quais descreve sintomas de envenenamento e tratamentos, além de diversos mamíferos que eram usados, então, para alimentação pelos indígenas.

O jesuíta José de Anchieta é considerado o fundador da história natural do Brasil
O jesuíta José de Anchieta é considerado o fundador da história natural do Brasil
Na parte botânica da sua epístola, também segundo o molde quinhentista, Anchieta descreve “plantas alimentícias” entre as quais raízes e frutos ainda hoje utilizados no Brasil como a mandioca ou o caju e medicinais, incluindo aí seu uso pelos indígenas. Anchieta realiza assim, com sua descrição de plantas e animais, juntamente com seu uso humano, um primórdio do que hoje entenderíamos por etnofauna e etnobotânica.

Mello Leitão prossegue descrevendo a «História da Província de Santa Cruz», do português Pero de Magalhães Gandavo, que ele considera inferior ao trabalho de Anchieta, mas que ainda assim acrescenta novidades em um capítulo sobre avifauna, onde descreve animais vistosos como gaviões e papagaios.
Do franciscano francês André Thevet, tem-se novamente o relato, sem método, dos viajantes da época.

Os franceses tiveram uma curta aventura colonialista no Brasil e Thevet vem falar das “singularidades” desta França Antartica, entretanto é um apanhado inferior ao de Anchieta, muito embora sempre apareçam descrições de novas espécies. Do mesmo modo é o trabalho de Jean de Lery, que afirmou viver com os Tupinambás por quase um ano e foi rival de Thevet, a quem contestou em seus escritos.

Ele descreve “animais, caça, grandes lagartos e outros seres monstruosos da América” e aves “boas de comer” e outras de plumagens belas, tão apreciadas na Europa na época, mas segundo Mello Leitão, seu trabalho é inferior aos de seus antecessores. Lery demonstra conhecer umas vinte plantas, entre as quais o fumo e o pau-brasil (Caesalpinia echinata), esta última a árvore que seria o primeiro “produto de exportação”, na verdade contrabando, da nova nação.

Novamente é a partir de outro jesuíta, Fernão Cardim, que entre 1583 e 93 esteve no Brasil que surge a produção de um documento de valor sobre a biologia brasileira em «Do clima e Terra do Brasil». Neste documento surge uma lista mais completa de mamíferos e uma descrição mais completa dos animais, que a dos antecessores. Da mesma forma, a descrição botânica de Cardim é mais completa, com dez capítulos onde aparecem árvores que dão fruto, outras medicinais, as que dão óleo ou madeira, as ervas comestíveis e medicinais, além de canas (bambusáceas) e as espécies de mangue.

Com Gabriel Soares de Souza surge uma interessante novidade. Vindo ao Brasil em 1567 para tornar-se senhor de engenho, Soares de Souza fixa-se na região nordeste do país, ao contrário dos cronistas anteriores, que escreveram sobre a natureza do sul e sudeste brasileiro. Escreve um «Tratado descritivo do Brasil», com cinqüenta e nove capítulos para animais e quarenta e um para plantas. Embora seu livro misture, segundo Mello Leitão, observações judiciosas com lendas e confusões, ainda assim considera seu livro como mais um dos marcos confiáveis sobre o estudo biológico no Brasil.

O português Pero de Magalhães Gandavo descreve animais
O português Pero de Magalhães Gandavo descreve animais "vistosos"
Warren Dean (3), considera que os esboços e relatos produzidos no século XVI no Brasil eram esforços amadores e que o interesse da Metrópole pela vegetação e pela vida animal da colônia era limitado. Segundo ele, os colonizadores preferiram ignorar as espécies nativas e efetuar transferências bióticas já conhecidas por eles para o Brasil a partir de regiões semi-tropicais européias, ou de regiões tropicais de suas colônias asiáticas ou africanas. Este fato é real e mesmo hoje, a base da agropecuária brasileira é feita a partir destas espécies introduzidas. Mas a análise de Dean não é totalmente correta.

Certamente o intento português de conquistar e transformar o novo território se evidenciaria no pragmatismo das relações dos colonizadores com o novo ambiente. Em um primeiro momento, o desprezo ou escravização da população nativa e destruição dos ecossistemas naturais seria realizado para viabilizar a implantação da monocultura do açúcar.

Mas para sermos justos com os portugueses, da leitura de Mello Leitão percebe-se que entre os europeus, foram na verdade, os letrados deste país, religiosos ou leigos, que produziram os conhecimentos mais interessantes, do ponto de vista biológico, da natureza do Brasil nos anos 500. Eles utilizaram as ferramentas de produção de conhecimento, que incluía a classificação de animais e plantas, compatíveis com o status científico europeu da época. Possivelmente estes cronistas descreveram inclusive as primeiras espécies extintas no Brasil por conta da exploração predatória dos colonizadores.

De qualquer modo, o conhecimento biológico levantado por portugueses teve destino diferente daquele produzido por outros europeus que estiveram no Brasil, o que mostra, de fato, um descaso com o trabalho destes primeiros cronistas. Enquanto alemães e franceses publicavam, sem maiores dificuldades, seus relatos de viagens e observações, portugueses tinham seus originais desprezados ou roubados. Anchieta só foi publicado em 1799, Gabriel Soares de Souza em 1825 e Fernão Cardim teve seus escritos tomados pelo corsário Francis Cook que o aprisionou em uma viagem a Portugal e vendeu seus escritos, que foram publicados por Samuel Purchas, na Inglaterra, em 1625.

(1) PEREIRA, P. R. Os três únicos testemunhos do descobrimento do Brasil. Rio de Janeiro: Lacerda Editores, 1999.

(2) MELLO LEITÃO, C. A biologia no Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1937.

(3) DEAN, W. A ferro e a fogo, a história e a devastação da Mata Atlântica brasileira. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.

A imperfeição da Terra a uma precisão inédita

ESA divulga dados do satélite GOCE

O GOCE está a mapear a gravidade da Terra em detalhe.
O GOCE está a mapear a gravidade da Terra em detalhe.
A Agência Espacial Europeia (ESA) divulgou os resultados do satélite GOCE. As medições tiveram uma precisão inédita das variações da gravidade da Terra. Segundo os avanços feitos pela agência, o nosso planeta não é assim tão redondo e está cheio de defeitos.

A missão está financiada até 2012, mas dada a sua excepcional exactidão, os investigadores estão a tentar uma extensão até 2014, já que o satélite está dotado de um pequeno motor de propulsão iónico que permite guardar uma altitude constante e dispõe ainda de combustível suficiente para aumentar o prazo.
A imagem transmitida mostra um tipo de esfera ideal de um oceano global livre das influências das marés e correntes, é a mais perfeita representação da variação do campo de gravidade no planeta e fundamental para o estudo da circulação dos oceanos, alterações no nível do mar e a dinâmica das placas de gelo, todas afectadas pelas mudanças climáticas. Em amarelo estão as áreas onde o satélite mediu uma maior aceleração da gravidade, enquanto em azul estão as regiões com menor aceleração.

“Está na hora de usar os dados do GOCE na ciência e em aplicações e estou particularmente excitado com os primeiros resultados oceanográficos”, disse o professor Reiner Rummel, ex-chefe do Instituto de Astronomia e Física Geodésica da Technische Universität München, onde a ESA realiza seu quarto seminário internacional sobre as aplicações do satélite.

O GOCE irá fornecer padrões dinâmicos da topografia e circulação dos oceanos com qualidade e resolução inéditas. Os resultados ajudarão a melhorar a percepção da dinâmica dos oceanos do mundo. Dois anos em órbita resultaram num modelo único do geóide – a superfície de um oceano global, num cenário de ausência de marés ou corrente, definido exclusivamente pela gravidade.

O GOCE em órbita.
O GOCE em órbita.
Novos avanços


O geoide do GOCE pode ajudar a fazer novos avanços sobre os oceanos e o clima, além da compreensão sobre a estrutura interna da Terra. Os dados do satélite sobre a gravidade, por exemplo, podem auxiliar a formar um maior entendimento sobre os processos que causam terramotos como o que atingiu o Japão recentemente. Como o abalo foi causado pelo movimento de placas tectónicos sob a superfície do mar, ele não pode ser observado directamente do espaço, mas os tremores deixam "assinaturas" nos dados sobre a gravidade que podem ser usados para identificar os processos que levam à ocorrência desses desastres naturais e, eventualmente, ajudar a prevê-los.

Lançado em Março de 2009, o GOCE já recolheu mais de 12 meses de dados sobre o campo de gravidade terrestre. A missão do GOCE é pioneira em vários pontos na ciência de observação da Terra. Tem seis acelerómetros altamente sensíveis que medem a gravidade em três dimensões e tem o primeiro gradiómetro a ir para o espaço.

O satélite também orbita o planeta na mais baixa altitude entre os satélites de observação de forma a conseguir os melhores dados sobre a gravidade da Terra. Além disso, usa um inovador motor de iões que gera pequenas forças para compensar a desaceleração provocada pela sua passagem pelas camadas restantes da atmosfera.

Tartaruga rara e centenária foi resgatada no Vietname

A tartaruga gigante-de-carapaça-mole (Rafetus Swinhoei), uma espécie altamente ameaçada e que pesa aproximadamente 200 quilos, foi finalmente resgatada do poluído lago Hoan Kiem, no Vietnam, após um esforço de tentativa de salvamento de meses, por parte das autoridades vietnamitas.

O animal sofreu ferimentos sucessivos na sequência dos ganchos utilizados na pesca. Esta tartaruga é muito importante para o país em termos culturais, devido a uma lenda contada às crianças. É raramente vista à superfície e, por isso, quando aparece, é um momento considerado bastante auspicioso.
Contudo, nos últimos meses tem sido vista mais frequentemente, ao que tudo indica, devido a problemas de saúde. A sua situação chamou a atenção do governo de Hanói, que criou uma equipa especial para tratar do animal, segundo adiantou a agência de notícias do Vietnam.

Estima-se que o animal tenha mais de 100 anos e é apenas uma das quatro tartarugas conhecidas desta espécie. Duas estão na China e a quarta vive numa outra zona do lago de Hanói. Este é um dos animais mais ameaçados do mundo e sabe-se muito pouco sobre eles. Existe mesmo o Programa Tartaruga Asiática, um grupo de investigação e conservação que se dedica a esta espécie.

Participaram 50 pessoas na missão de salvamento, que decorreu no lagon Kiem, em Hanói. Com a ajuda de barcos e redes, a tartaruga pôde ser entregue aos cuidados de especialistas. Acredita-se que o débil estado de saúde da Rafetus Swinhoei se deva à poluição do lago Hoan Kiem e pela acção de pescadores e de outras tartarugas menores.

Lenda
Reza a história que, no século XV, o líder rebelde Le Loi usou uma espada mágica para expulsar os invasores chineses e fundou uma dinastia com o seu nome. Um dia, Le Loi, que acabou por se tornar imperador, foi andar de barco num lago. Durante o passeio, uma tartaruga tirou-lhe a espada mágica e levou-a para o fundo do lago para que possa ser utilizada sempre que o Vietnam precisar, mantendo-se sua guardiã. O artefacto terá sido usado na conquista da independência face à Dinastia Ming, da China.

O maior telescópio do mundo será coordenado pelo Reino Unido

O SKA estará pronto em 2024



O maior telescópio do mundo – o SKA (Square Kilometre Array) –, que ajudará a descobrir algumas das incógnitas sobre a origem do universo não estará concluído antes de 2024, mas já tem a sede que o coordenará escolhida: no Observatório Jodrell Bank de Cheshire (Reino Unido). Este será um dos maiores projectos astronómicos dos próximos anos, onde participaram 67 organizações e 20 países, na tentativa de responder a algumas das maiores perguntas sobre o universo, através de tecnologia que transcede os limites da engenharia, computação e energia renovável. A ubiquação do telescópio será eleita em 2012 e poderá ser construída em 2016. A Austrália, Nova Zelândia e África do Sul são a lista de possíveis países que poderão albergar o complexo.
O SKA terá três mil antenas de 15 metros de diâmetro, cada uma, repartidas por uma superfície de um quilómetro. As instalações do Observatório Jodrell Bank de Cheshire serão inauguradas em Janeiro do próximo ano. A Universidade de Manchester está a cargo de supervisionar todo o projecto.

A informação captada pelo SKA será processada em vários centros repartidos por todo o mundo e dará aos investigadores a oportunidade de explorar o universo e detectar a radiação electromagnética emitida por diferentes objectos no espaço.

A tecnologia terá uma sensibilidade 50 vezes maior e radiografará o espaço a uma velocidade dez mil vezes superior a qualquer outro telescópio. Os astrónomos esperam resolver diferentes incógnitas, tais como: Como evoluíram as galáxias? Como é que eram os primeiros buracos negros? De que modo se formam campos magnéticos?

O SKA trará avanços sobre a formação e evolução das primeiras estrelas e galáxias depois do Big Bang, sobre o papel de magnetismo cósmico, a gravidade, e talvez sobre a vida extraterrestre. Os investigadores acreditam que o SKA poderá mesmo detectar sinais extraterrestres mesmo debilitados.

Como andar de bicicleta pelas ruas de Lisboa

‘Bike Buddies’ acompanham e aconselham novos utilizadores

Foto: Lisbon Cycle Chic
Foto: Lisbon Cycle Chic
Quer andar de bicicleta em Lisboa mas não sabe como? O programa ‘Bike Buddy’ (BB), lançado pela MUBi – Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta, ajuda os novos ciclistas a ultrapassar receios.

Trata-se de um serviço de apoio contínuo, gratuito e voluntário às deslocações urbanas em bicicleta, com vista a promover e facilitar a adopção deste meio de transporte. A ideia é incentivar e motivar as pessoas a aderirem à bicicleta para algumas das suas deslocações quotidianas.
Os ‘Bike Buddies’ são sócios da MUBi que acompanham os novos utilizadores nas suas primeiras experiências de bicicleta pela cidade, partilhando a sua experiência, aconselhando quanto a rotas, equipamento, segurança, legislação, atalhos e truques que permitam facilitar a deslocação.

O serviço dirigido a potenciais utilizadores de bicicleta consiste num tutor temporário que acompanha o utilizador inexperiente durante duas semanas (duas/três vezes por semana) nos trajectos casa-trabalho-casa, com o objectivo de familiarizar o novo utilizador com a bicicleta como meio de transporte em contexto urbano.

Não se pretende ensinar ninguém a andar de bicicleta, por isso, os requisitos mínimos para solicitar este serviço são ter uma bicicleta em condições aceitáveis e saber conduzi-la com destreza. O contacto deverá ser feito através de um pequeno inquérito na página oficial do projecto BB, em que o interessado poderá, detalhando o seu perfil de utilizador, solicitar o BB que mais lhe convém.

O objectivo do projecto BB visa a longo prazo aumentar a frequência de utilizadores de bicicleta na cidade de Lisboa e noutras cidades portuguesas, combatendo o mito que reitera ou a sua impossibilidade ou os elevados riscos para a segurança de cada utilizador.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Matemática explica golo maravilha de Roberto Carlos


Roberto Carlos em 1997
Roberto Carlos em 1997
O golo marcado pelo brasileiro Roberto Carlos num jogo contra França, em 1997, é considerado uma das maravilhas do futebol. A bola curvou de uma forma que deixou o guarda-redes Fabian Barthez estático.

O que para muitos foi considerado um golpe de sorte, tem uma explicação matemática e quem o afirmou foi o professor Eduardo Marques de Sá, na conferência que deu ontem na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL), intitulada ‘Euler, Roberto Carlos e o golo-maravilha’.
O golo maravilha de Roberto Carlos “tem três protagonistas: o Roberto Carlos, a bola e o ar”. A característica deste golo inclui “uma bola que curva e no final da sua trajectória tem um aumento de curvatura”. Para Eduardo Marques de Sá, “este fenómeno de uma bola que é disparada em linha recta e que depois começa a encurvar e consegue fintar o guarda-redes é muito interessante”.

“O que Teorema de Bernoulli e o Efeito de Magnus nos dizem é acerca da relação entre a velocidade de um fluído e a pressão no interior desse fluído”. O Efeito de Magnus “é uma manifestação do Teorema de Bernoulli numa forma mais sofisticada que lhe foi dada por Leonhard Euler e os seus seguidores”.

Assim, se imaginarmos a bola de futebol chutada em direcção à baliza, o ar passa por ela e enquanto se move arrasta consigo um pouco de ar ao girar. Quando a bola e o ar se movimentam na mesma direcção a velocidade é maior, portanto a pressão é menor. Quando o ar se move contrário à bola a velocidade é menor, portanto a pressão é maior. Isso faz com que a bola desvie seu caminho normal, produzindo então o Efeito Magnus, conseguido por Roberto Carlos no seu golo maravilha. “Esta é a justificação de carácter matemático deste tipo de fenómeno”, afirmou o professor.

O golo maravilha “tem três protagonistas: o Roberto Carlos, a bola e o ar”, explicou Marques de Sá
O golo maravilha “tem três protagonistas: o Roberto Carlos, a bola e o ar”, explicou Marques de Sá
A teoria dos fluidos foi primeiro explicada por Newton. No entanto, “Euler foi considerado o pioneiro da mecânica dos fluidos”, apesar “de ter sido Magnus que detectou experimentalmente o efeito e mediu, e estabeleceu as equações”.

A espiral que se obtém no golo de Roberto Carlos é alcançada "nas equações por variação de alguns parâmetros" e se "mudarmos os parâmetros destas espirais conseguimos uma família de espirais de tipo Euler", mas estas curvas "ainda não estão estudadas".

A espiral de Euler tem uma "característica geométrica muito interessante" que é "a curvatura na parte inicial é zero e depois aumenta à medida que vai adiante".

Sem limites

‘Matemática sem limites’ é o nome do ciclo aberto de palestras dirigidas ao grande público que o Departamento de Matemática da FCUL organiza até 26 de Maio, todas as quintas-feiras às 18h30. O objectivo principal é mostrar de uma forma apelativa mas sem prescindir de um certo rigor como a matemática é uma disciplina ‘sem limites’, abrangendo muitas áreas diferentes da ciência e da cultura, providenciando assim uma compreensão mais profunda do mundo que nos rodeia. As palestras são proferidas por matemáticos portugueses reconhecidos pela sua capacidade de encontrar temas muito motivadores e de os abordar de uma forma clara e apelativa, mantendo sempre um conteúdo matemático elevado, embora nem sempre evidente.

Sobre o palestrante

Eduardo Marques de Sá é professor de matemática, principalmente no Departamento de Matemática da Universidade de Coimbra onde leccionou e investigou durante mais de três décadas. Mantém, hoje, a sua actividade de investigação no Centro de Matemática da UC e pratica dois vícios de sempre: a divulgação da matemática e a sua didáctica básica.

Fonte: www.cienciahoje.pt